terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Phone Clip Level 1

Resolvi ganhar confiança e testar o Phone Clip realizando uma ligação.
O teste foi para a empresa de TV a cabo. Como ela está sempre desligada da tomada (é uma sem mensalidade) tenho que atualizar os dados após um ano desligada.
Queria assistir um programa, estava sozinho em casa. Desafio aceito, liguei para a operadora. Como a fala dos atendentes (gravações) são devagar é fácil de entender. Digitar CPF, qual o código de problema, qual solução. Assim aguardar um tempo, 10 minutos e perceber que tudo ocorreu certo.

Consegui! Telefone em primeiro desafio, vamos testar ainda mais.

Estou já conversando sem necessidade de leitura labial o tempo todo, principalmente quando a pessoa ao meu lado fala devagar.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

A rádio vende fim-de-semana

Vou confessar uma acelerada na troca de mapas. Faz um mês que troquei de MAPAS, estou no último que tem programado.

Cada troca de MAPAS alguns sons se tornam irritantes. Saco plástico me dá uma irritação. Logo após umas duas horas tu já estas acostumado. Todo o processo de identificação dos sons se inicia novamente, novos surgem, outros tu tens que distinguir novamente.

Na parte da comunicação está excelente! Quando há diálogo entre eu e outra pessoa, ou quando sei que há uma pessoa falando, o processo de identificação das palavras sem leitura labial é de cerca 80%.

Por isso o título desse post.

Tenho ouvido rádio no carro, rádio Guaíba. Acompanho algumas notícias. É interessante como para ouvir necessitamos direcionar nossa atenção para identificar as palavras. Um exercício diário para a memória.

Assim, quando começa as propagandas das rádios (troca de estação algumas vezes) os números são pontualmente identificados: "São nove horas e oito minutos do dia sete de outubro de dois mil e dezesseis"; "No centro de POA dezoito graus e sete décimos".

E a chamada de sempre: "Nesse fim-de-semana sua estada é na/no..."; "Ofertas incríveis para deixar seu fim-de-semana mais agradável".

E assim ouvindo, aprendendo, as formas de se comunicar vão se tornando menos cansativas. Mas confesso tem diálogos que não se devem dar muita importância de tão irresponsáveis.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

MAPAS

Mapas! Palavra que lembra geografia.
Geografia do som. Um não-lugar, como AUGÉ pode me apresentar como o espaço que não tem como definir sua identidade, história. Espaço não são antropológicos por sua definição metodológica.

Well, mapas novos podem serem esse processo auditivo de identificação, compreensão, definições. O que ocorre com novos mapas?
Um processo de adequação espacial e relacional. O primeiro barulho que mais me incomoda, que causa espanto (e uma certa irritação) é o barulho de plástico ou folhear livro, revista, caderno de forma brusca. Nada que após 2 dias esses barulhos se tornem o cotidiano.

O conhecimento auditivo é espetacular. Mostra que compreensão e atenção são momentos que trabalham nossa memória. Tal como Marianna sempre me avisou que o primeiro barulho que tinha que perceber (e que ela detesta) é o Papagaio do vizinho. Maldito (ou bem-ouvido) dia em que ela me apresentou esse berro.. PLLLÁÁÁÁÁÁHHHHH...PLÁAAÁHH.
Hoje compreendo sua agonia de todo dia pela manhã esse bicho fora de seu habitat.

Palavras escutadas um processo de descobertas. A cada dia encontro novas palavras: gente, bolo, laranja, academia, casa, carro, colher...
A que mais seu identificar é meu afilhado: Vicente. E também quando ele me chama: dindo...dinnDOO...DDIIIINNNNNNDDDOOOOOOOOO!!! Essa é de primeira!
Percebi que meus pais ainda não "se deram conta" de como é esse processo. Esses dias cheguei na casa da mãe e colhi uma laranja para comer. Minha mãe queria conversar comigo.
Enquanto descascava, ela falava e sempre parava para eu fazer a leitura labial... Forcei um pouco para que ela continuasse a conversa sem eu olhar à ela. Ela percebeu que eu ouvia (e compreendia). Assim ela (re)descobriu que eu converso em entendo quase tudo.

Grafias de sons:
Cachorro não é "au-au". Parece mais como um ráuh-ráuh (porte médio/grande) e rauíh-rauih (porte pequeno);
Gato: é a grafia em inglês meow-meow. E não miau-miau.
Passarinhos: são tantos... gostei do Sabiá, João-de-Barro e do Quiero-Qero (assim seu canto).

Tenho mais um MAPA a trocar, mas ele é bem forte. Primeiro quero identificar e memorizar mais sons com esse mapa para após mudar. Conforme a fonoaudióloga Márcia Kimura estou em um último estágio de MAPAS, sendo os próximos ajustes pontuais para situações cotidianas. Isso vai durar mais uns 6/8 meses até lá tenho um outro mapa para explorar.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Uma outra forma de interagir.

Esse post vai ser longo, muito tempo sem escrever por aqui. Estava com vontade de escrever desde meu aniversário no dia 07/04. Esse dia foi idílico para mim (não somente por ser feriado).
Em meu aniversário resolvo sair com a Marianna e convidar um casal de amigos para comemorar. Pandolfo e Manuela nos acompanharam em um happy hour no Bar Odessa.

Ir a lugares movimentados, músicas, sempre foi um desafio para mim.
Acompanhar o diálogo era um misto de aborrecimento e cansaço. Realizar leitura labial com pouca luz, barulhos...

Bem, nessa data estreei novos MAPAS do implante Nucleus6. E foi um momento agradável de conversas entre nós. Consegui acompanhar o bate-papo com todos de forma participativa e convidativa. Até percebi como direcionar minha concentração para a fala das pessoas. Em um momento em que estava conversando sobre sons com a Manu, percebi que na mesa atrás de nós as vozes das pessoas.

Que incrível!! Sem esforços dava para notar som de voz! Claro que não estava compreendendo o diálogo da mesa, mas mesmo assim conseguia conversar com a Manu e "desligar" todo o som amplificado que antes ouvia com os AASI. O momento que nos dá forças para continuar o processo de aprendizagem dos sons.

Com esse incentivo dos amigos planejei o encontro com a Fonoterapia. Mas antes disso resolvi ir ao jogo do Grêmio e Rosário pela Libertadores de 2016. Apesar de o Grêmio ter perdido esse jogo, para mim foi gratificante.
Antes de entrar no estádio eu e meu irmão Franken fomos até uma praça ao lado do estádio para encontrar com uns amigos. Nossa, que maravilha! Há sons diversos como músicas de rock, da Banda Tricolor, conversas. Tudo isso estava "claro" e era possível fazer algumas distinções!
Hora de entrar no estádio e torcer....
Hiii... que barulho é esse... prrriuiiuuiiiiiiiiuuu!?
Logo no último andar do estádio, será buzinas da BR? Não, isso não é buzina... parou..... pppprrrriiiuuuuuiui.... De novo?
Tomara que não esteja a bateria do implante acabando por causa do frio. Peraí, NOSSA!!!! Esse barulho é do apito do juiz!!!
Mas como? Toda essa barulheira no estádio e as pessoas ouvem o apito do juiz!?!?! Que legal!!!
E assim, a cada semana sons vão surgindo em minha nova percepção dos sons.

Então tenho encontro com a Fono Maria Elza Dorfman.
Que excelente pessoa e profissional. Me explica pontualmente como é o processo, me elogia de minha excelente adaptação.
E com ela aprendo que para ouvir, principalmente decodificar palavras, precisamos distinguir 6 letras do alfabeto: A, I, U, S, X, M.
Essas letras compõem as principais ondas sonoras que o nosso cérebro distingui.
Hum, agora começa todo processo mais apurado de adaptação. Para me divertir um pouco, tenho colocado música clássica enquanto trabalho.
E assim vamos para mais um mês de exploração sonoras.

Grande abraço!


segunda-feira, 28 de março de 2016

Primeiros sons.

Deixei para escrever agora, cerca de um mês e meio após a ativação, pois estava a compreender cada tipo de sons que tento perceber com o processador Nucleus.
É bem diferente dos aasi (aparelho de amplificação sonora individual). Enquanto o AASI amplifica os sons, fazendo com que tudo ao nosso alcance sejam ruídos, o processador do IC (Implante Coclear) mantém os sons estáveis. Assim necessitamos de uma "parada" para identificar cada som.
As vezes me faz falta o AASI. Como estou usando no ouvido esquerdo acaba fazendo um "nivelamento" com o IC.
Estou com o mapa auditivo bem leve ainda. O mapa auditivo é a intensidade das correntes dos elétrons que estão sendo enviadas pelo processador até o implante. Isso é um período de adaptação e também para se evitar qualquer tipo de desconforto que possa ocasionar pelas correntes.

No começo não estava gostando, pois os sons pareciam "baixos". Conversando com a Marianna em casa fui percebendo que eles não estão "baixos" apenas me adaptei a ouvi-los de forma amplificada. Assim cada dia as vozes dos vizinhos no apartamento ao lado, o latido do cachorro ganham uma identificação sonora.

Mas quero compartilhar com vocês a descoberta de uns "sonzinhos" que nunca tinha ouvido: a água pingando da torneira, o timer do forno elétrico, o pisca-pisca do carro. Os dois primeiros foram descobertos sentado no sofá. Estava ouvindo esses barulhos quando estava parado, lendo um livro. Marianna chegou do consultório, olhei para ela e perguntei: que barulho é esse? (pensando que fosse problema no IC). Ela me aponta, esse na tua frente é do chuveiro. Parei um tempo e prestei atenção, sim... estou ouvindo!! Mas tem outro, mais "chato", perece em sequência um tititi. AHH, esse é do timer.
E assim estou aprendendo esses pequenos sons. Já do pisca-alerta do carro eu tive que estar sozinho no carro e olha para aquela luz e identificar que a luz é uma sequência do som!

Hoje não fico sem colocar o IC. É maravilhoso, desde o momento em que tu "acerta" o encaixe dá uma sensação de "ligar". Sim, tipo uma chave que tu liga para os eletrônicos funcionarem, e em dois a três titiutitiutuuuu, sente-se o ligar de um mundo de sons para se explorar.

Vou retornar daqui uns dias para mudar o mapa do processador Nucleus6, vamos ouvir o que me espera!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

24 horas ativado

Já faz umas 24 horas que ativamos o Nucleus6.
Diferente? Bastante.

Parece que sons são iguais, tipo o aparelho auditivo. A diferença é que há um "eco" dentro da cabeça. O som penetra. Ainda não é possível diferenciar cada tipo de som, mas a leitura labial, a conversa em ambientes com mais pessoas já se tornou mais fácil!

Esse primeiros meses é um processo de mapeamento dos sons. Ativar cada sons diferentes para que não me assuste ou para que perca a vontade. Confesso que gostaria de tudo de uma vez, mas analisando percebo que isso vai fazer com que o implante vire um amplificador de sons.
Vou esperar a descoberta desses sons. Como uma criança que aponta o dedo e pronuncia : "óhh!", para que adultos também passe a perceber o sons e dizer seu significado, um pássaro, uma voz...

Ainda tem poucos sons, mas a fono disponibilizou quatro programas para selecionar. Agora que escrevo em um ambiente fechado e sozinho, coloquei piano Chopin só para sentir sons. Mas não durou muito, pois a programação inicial está para voz das pessoas. Assim coloquei Chico Buarque e... sim! É possível distinguir voz de instrumento, mas decifrar a voz será em uma outra oportunidade.

Vim aqui só para escrever esse relato, agora parto para um período de recesso... tenho que recarregar uma energia mental para "destravar" a tese. Ela está em um momento crucial em que necessito pensar o final de um capítulo para que possa finalizar esse trabalho.


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Ativação e ansiedade

Ainda estou com o implante no ouvido.

A ativação foi marcada para dia 17/02/2016. Esses dois meses sem aparelho em um lado do ouvido me deixou bastante "fraco" em termos de comunicação.

Uma grande falta de barulho, mesmo que indecifrável, me deixou um pouco chateado. Hoje vejo a importância que o aparelho têm em meu dia-dia.

A ansiedade com a ativação estão grande. Não sei oquê esperar. Que vou sentir, quais sons, que sons são esses. Como tudo será processado e procedido nesses momentos. São dúvidas e questões que tornam cada dia um momento de auto-análise pessoal.

Isso pois, começo a notar algumas irritações minhas com questões e palavras. Irritações sobre argumentos e questionamentos. Revendo isso, percebo que ao argumentar, ou simplesmente proferir alguma frase, sinto que as "incompreensões" das pessoas não parte delas, mas de mim por achar que não houve uma compreensão mútua entre os sons. Será isso mesmo, ou é apenas a a minha própria ausência sonora que me torna, eu mesmo, um sentimento de incompreensão.

Ao ficar esses meses sem aparelhos percebo que é sentimento de não presença. Tal como a pesquisa que o prof. José Guilherme Cantor Magnani realizou com a comunidade surda, eles reforçam a necessidade de manter a linguagem de sinais em qualquer ambiente e na presença de qualquer pessoa ouvinte pois esse é o sentimento próprio ao pertencerem nesse mundo cada vez mais com sons e imagens sonoras.

Seguimos adiante, quarta-feira veremos qual será a exploração dos sons. Me preparando para que a ansiedade não se torne frustração. Com paciência e motivação conseguirei compreender esses sons, reais, produzidos, incompreendidos, movidos.

Abraços!